terça-feira, 22 de novembro de 2011

COLL, César; MAURI, Teresa; ONRUBIA, Javier. A incorporação das tecnologias da informação e da comunicação na educação: do projeto técnico-pedagógico às práticas de uso COLL, Cesar;MONEREO, Carles. Psicologia da educação virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010. Cap. 03 (p. 66 - 93) [Resenha] Cap-03

Ivanderson Pereira da Silva





Na parte introdutória deste capítulo, os autores vão revelar que o seu objetivo principal neste capítulo é “analisar o impacto  das TIC na educação formal e escolar a partir de uma revisão de estudos sobre a incorporação destas tecnologias na educação e de seus efeitos sobre as práticas educacionais e os processos de ensino e aprendizagem” (p. 66). Vão afirmar que “a penetração das TIC nas escolas e nas salas de aula ainda é limitada. [...] O que ocorre é que se trata de um potencial que pode ou não vir a ser uma realidade, e pode tornar-se realidade maior ou menor medida, em função do contexto no qual as TIC serão, de fato, utilizadas. São portanto, os contextos de uso que acabam determinando seu maior ou menor impacto nas práticas educacionais e sua maior ou menor capacidade para transformar o ensino e melhorar a aprendizagem” (p. 66 e 67).

No tópico intitulado “O impacto das TIC na educação: discursos e expectativas”, os autores afirmam que,

No novo cenário social, econômico, político e cultural da SI – muito facilitado pelas TIC e outros desenvolvimentos tecnológicos que estão ocorrendo desde a segunda metade do século XX –, o conhecimento passou a ser a mercadoria mais valiosa de todas, e a educação e a formação são as vias para produzir e adquirir essa mercadoria. Neste cenário, a educação deixou de ser vista apenas como um instrumento para promover o desenvolvimento. A socialização e a enculturação das pessoas, um instrumento de construção da identidade nacional ou um meio para construir a cidadania. Neste cenário, a educação adquire uma nova dimensão: transforma-se no motor fundamental do desenvolvimento  econômico e social. Tradicionalmente, a educação tem sido considerada uma prioridade das políticas culturais, de bem estar social e de equidade. Junto com as TIC, na SI a educação e a formação passam a ser uma prioridade estratégica para as políticas de desenvolvimento, com tudo o que isso representa. Mas o que interessa sublinhar agora é que a centralidade crescente da educação e da formação na SI tem vindo acompanhada por um protagonismo igualmente crescente das TIC nos processos educacionais e formativos. O objetivo de construir uma economia baseada no conhecimento requer que a aprendizagem seja colocada em destaque, tanto no plano individual quanto no social; neste marco, as TIC, e mais especificamente as novas tecnologias multimídia e a Internet, apresentam-se como instrumentos poderosos para promover a aprendizagem, tanto de um ponto de vista quantitativo como qualitativo. Por outro lado, estas tecnologias tornam possível, por meio da supressão das barreiras espaciais e temporais, que mais pessoas tenham acesso à formação e à educação. Por outro, graças às tecnologias multimídia e à Internet, novos recursos e possibilidades educacionais estão disponíveis. Além disso, a utilização combionada das tecnologias multimídia e da Internet torna possível aprender em praticamente qualquer cenário. [...] As instituições de educação formal, estão sofrendo transformações progressivas como consequência do impacto destes fatores e fenômenos típicos da SI, associados, pelo menos até certo ponto, com as TIC; outras instituições, que não são estritamente educacionais  - como a família, o local de trabalho, museus e centros culturais –, têm sua potencialidade como cenários de educação e formação consideravelmente aumentada; e outros espaços até agora inexistentes –, como por exemplo, os espaços virtuais  de comunicação, on-line ou em rede, que as TIC permitem configurar – emergem como cenários particularmente idôneos para a formação e o aprendizado. Em suma, as TIC estão transformando os cenários educacionais tradicionais e, ao mesmo tempo, promovendo o surgimento de outros novos. (p. 67 e 68)



Ao fazer esta provocação, os autores apontam um deslocamento de olhar investigativo: “por um lado, o interesse se desloca da análise das potencialidades das TIC no ensino e na aprendizagem para o estudo empírico dos usos efetivos que professores e alunos fazem dessas tecnologias no transcurso das atividades de ensino e aprendizagem. Por outro lado, as possíveis melhoras de aprendizagem dos alunos são vinculadas à sua participação e envolvimento nessas atividades, nas quais a utilização das TIC é um aspecto importante, mas apenas um entre os muitos aspectos relevantes envolvidos” (p. 70).  Neste sentido, o problema real não são as potencialidades das TIC, mas sim o que se faz efetivamente com elas.

O tópico intitulado “Sobre os usos das TIC nas escolas e nas salas de aula”, está organizado em dois subtópicos. Na parte introdutória, os aurores vão destacar que há “enormes diferenças entre os países no que se refere à incorporação das TIC na educação e à conexão das escolas à internet. Assim, enquanto em alguns países a maioria, ou mesmo a totalidade, das escolas contam com equipamentos de alto nível e dispõem de conexão à internet de banda larga, em outros continuam existindo carências enormes em ambos os aspectos. Tais diferentes, por outro lado, não existem apenas entre países ou entre regiões como frequentemente são detectadas também dentro de uma única região ou até do mesmo país” (p. 70 e 71).

Numa análise dos estudos nacionais (espanhois) e internacionais acerca das TIC na sala de aula, os autores concluem que: “todos os estudos [...] coincidem em destacar dois fatos que; com maior ou menor intensidade, conforme o caso, aparecem com frequência. O primeiro fato guarda relação com o uso limitado que professores e alunos normalmente fazem das TIC. E o segundo, com a limitada capacidade que parecem ter essas tecnologias para impulsionar e promover processos de inovação e melhora das práticas educacionais.” (p. 71). Ambas as conclusões, são questionadas pelos autores, segundo a citação anterior.

O primeiro subtópico deste tópico, intitulado “Das expectativas às realidades: os resultados da pesquisa” enfoca a análise de estudos internacionais sobre o impacto das TIC nos processos de ensinar e aprender dentro das escolas e conclui o seguinte: “os resultados obtidos indicam eu enquanto as TIC, em geral,  e os computadores e a internet, em particular, são utilizados frequentemente por uns e por outro sno lar, eles praticamente não são usados nas escolas. Ou ainda pior, os usos que são dados às TIC na sala de aula são, com frequência, “periféricos” aos processos de ensino e aprendizagem (por exemplo para digitar textos)” (p. 72).

Após fazerem esta constatação, os autores vão analisar um relatório de pesquisa sobre o uso das TIC nas escolas espanholas e vão concluir o seguinte:

·         Investir mais em Tecnologia na Escola: “É necessário melhorar muito no que se refere ao número de salas de aula com computadores com conexão à internet e ao número de computadores nas salas de aula ordinárias” (p. 73).

·         Melhorar a qualidade das práticas escolares com uso das TIC: “as atividades, de ensino e aprendizagem desenvolvidas na maioria das aulas ordinárias do ensino fundamental e do ensino médio na Espanha não incorporam as TIC” [...] “os usos mais frequentes [...] estão relacionados principalmente com a busca e processamento da informação” (p. 73).

·         Aproximar o discurso das práticas: “há uma defasagem considerável entre a atitude positiva e elevada valorização que o professorado expressa e tem das TIC e o uso limitado que dá a elas em sua prática docente” (p. 73).

·         Minimizar a distância entre o que sabem os professores e o que sabem os alunos sobre TIC: “há uma defasagem clara entre o nível de comodidade que sentem os alunos e o que sente o professorado frente às TIC” (p. 73).

·         Valorizar o saber do aluno sobre as TIC: “chama atenção a defasagem existente entre os conhecimentos e as capacidades relacionadas com as TIC que os alunos dizem ter e o escasso aproveitamento que é feito destas nas escolas e nas salas de aula” (p. 74).

No subtópico intitulado “Chaves para a compreensão da defasagem entre expectativas e realidades”, os autores vão defender que: “os professores tendem a dar às TIC usos que são coerentes com seus pensamentos pedagógicos e com sua visão dos processos de ensino e aprendizagem. Assim, com uma visão mais transmissiva ou tradicional do ensino e da aprendizagem, tendem a utilizar as TIC para reforçar suas estratégias de apresentações e transmissão de conteúdos, enquanto aqueles que têm uma visão mais ativa ou “construtivista” tendem a utilizá-las para promover as atividades de exploração ou indagação dos alunos, o trabalho autônomo e o trabalho colaborativo” (p. 75).

Vão neste subtópico reforçar a tese que vem sido defendida desde a apresentação do livro na página 11:

A incorporação das TIC na educação não transforma nem melhora automaticamente os processos educacionais, mas, em compensação, realmente modifica substancialmente o contexto no qual estes processos ocorrem e as relações entre seus atores e entre esses atores e as tarefas e conteúdos de aprendizagem, abrindo, assim, o caminho para uma eventual transformação profunda desses processos, que ocorrerá, ou não, e que representará, ou não, uma melhora efetiva, sempre em função dos usos concretos que se dê à tecnologia. (p. 11)



A simples incorporação ou uso em si das TIC não geram, inexoravelmente, processos de inovação e melhoria do ensino e da aprendizagem; na verdade, são determinados usos específicos  das TIC que parecem ter a capacidade de desencadear esses processos. (p. 75)



O tópico intitulado “O potencial das TIC para o ensino e para a aprendizagem” está organizado em três subtópicos. No primeiro subtópico intitulado “As TIC como instrumentos para pensar e interpensar” os autores vão defender que “todas as TIC, digitais ou não, somente passam a ser instrumentos psicológicos, no sentido vygotyskyano, quando seu potencial semiótico é utilizado para planejar e regular a atividade e os processos psicológicos próprios e alheios” (p. 76). No glossário deste capítulo, os autores vão definir instrumentos psicológico como sendo:

Um conceito que tem origem nos trabalhos de L.S. Vygotsky sobre a importância da mediação semiótica do desenvolvimento dos processos psicológicos superiores e na aprendizagem humana. De acordo com a definição proporcionada por Kozuloin (2000, p. 15), “os instrumentos psicológicos são os recursos simbólicos – signos, símbolos, textos, fórmulas, meios gráfico-simbólicos – que ajudam o indivíduo a dominar suas próprias funções psicológicas ‘naturais’ de percepção, memória, atenção, etc. Os instrumentos psicológicos atuam como uma ponte entre os atos individuais de cognição e os requisitos simbólicos socioculturais desses atos”. A linguagem é, para Vygotsky, o instrumento psicológico por excelência. As TIC, devido às suas características semióticas, podem ser vistas como instrumentos psicológicos no sentido vygotskyano, ou seja, como recursos que as pessoas podem utilizar para “dominar” seus processos psicológicos (p. 92).



E novamente, os autores vão eleger as práticas como as TIC como sendo as responsáveis pela efetiva transformação. “a capacidade mediadora das TIC como instrumentos psicológicos é uma potencialidade que, como tal, torna-se ou não efetiva – e pode tornar-se efetiva em maior ou menor medida – nas práticas educacionais que transcorrem nas salas de aula em função dos usos que os participantes fazem delas” (p. 76 e 77).

Os autores no subtópico intitulado “Ferramentas tecnológicas e práticas educacionais: do projeto ao uso” vão destacar três níveis diferentes de indagação e análise para responder por que os professores dão determinado uso, e não outro, para as TIC.

·         Projeto tecnológico: “em primeiro lugar, os usos que os participantes efetivamente façam das TIC dependerão, em grande medida, da natureza e das características do equipamento e dos recursos tecnológicos que forem postos a sua disposição” (p. 77)

·         Projeto pedagógico ou instrucional: refere-se ao que se propõem as ferramentas tecnológicas. “o projeto técnico-pedagógico é apenas um referencial para o desenvolvimento do processo formativo, e como tal está inevitavelmente sujeito às interpretações que os participantes fazem dele” (p. 78).

·         Análise das formas de organização da atividade conjunta desenvolvida pelos participantes e dos usos efetivos das TIC: “a organização da atividade conjunta é, em si, o resultado de um processo de negociação e de construção por parte dos participantes, de maneira que tanto as formas de organização que vão se sucedendo ao longo do processo formativo quanto os usos dados às ferramentas tecnológicas não podem ser entendidos como uma simples transposição ou um mero desenvolvimento do projeto técnico-pedagógico previamente estabelecido. [...] é justamente nesta recriação e redefinição que o potencial das ferramentas tecnológicas como instrumentos psicológicos torna-se efetivo ou não, mediante sua contribuição para o estabelecimento de determinadas formas de organização da atividade conjunta e incidindo em maior ou menor medida, por meio destas, nos processos intra e intermentais envolvidos no ensino e na aprendizagem” (p. 78).



Em síntese, “os usos efetivos que professores e alunos fazem das TIC dependem tanto do projeto técnico-pedagógico das atividades de ensino e aprendizagem em que estão envolvidos quanto da recriação e redefinição  que eles fazem dos procedimentos e normas de uso das ferramentas incluídas nesse projeto” (p. 78)

O subtópico intitulado “Rumo a uma tipologização dos usos das TIC na educação formal” os autores vão apresentar tipologizações das TIC já disponíveis e avão afirmar que essas até o momento, não tem levado em conta o uso dessas, mas sim as suas características ou técnicas ou potencialidades pedagógicas. Vão propor uma tipologização de usos que contempla cinco categorias de usos e que é representada pelo “triangulo interativo”.

·         As TIC como instrumentos mediadores das relações entre alunos e conteúdos (e tarefas) de aprendizagem;

·         As TIC como instrumentos mediadores das relações entre professores e conteúdos (e tarefas) de ensino e aprendizagem;

·         As TIC como instrumentos mediadores das relações entre professores e alunos ou dos alunos entre si;

·         As TIC como instrumentos mediadores da atividade conjunta desenvolvida por professores e alunos durante a realização das tarefas ou atividades de ensino e aprendizagem;

·         As TIC como instrumentos configuradores de ambientes ou espaços de trabalho e de aprendizagem.



A respeito desta tipologização os autores vão ponderar que a mesma ainda não está finalizada e que “as fronteiras entre algumas categorias são mais difusas do que se pode parecer à simples vista e resulta as vezes difícil estabelecer com precisão a qual categoria pertence um uso concreto de uma ferramenta de TIC (p. 85)[...] frequentemente essas relações não são estáveis, mas evoluem e se modificam em um ou outro sentido conforme o professor e os estudantes desenvolvem as atividades  de ensino e aprendizagem; portanto, é lógico supor que os usos das TIC, em seu caráter de instrumentos que medeiam essas relações, podem experimentar, também, uma evolução” (p. 86).

Advertem ainda que “nenhuma das cinco categorias de usos pode ser considerada a priori e em termos absolutos mais inovadora, mais transformadora ou “melhor” do que as outras” (p. 86) e que “o potencial das TIC para influenciar os processos inter e intrapsicológicos envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem será tanto mais elevado quanto maior for sua incidência na maneira como professores e alunos organizam a atividade conjunta em torno dos conteúdos e tarefas de aprendizagem” (p. 86).

Para finalizar esse subtópico, os autores vão apontar lacunas (a partir do levantamento teórico-bibliográfico realizado) nos estudos sobre os usos das TIC e com isso apresentar campos férteis para a pesquisa na área:

A maioria dos usos identificados e descritos correspondem às duas primeiras categorias da nossa classificação (usos das TIC como instrumentos  mediadores das relações entre os alunos – e entre os professores – e os conteúdos e tarefas de aprendizagem). Os usos que poderiam corresponder às outras três categorias são pouco frequentes e em alguns estudos nem sequer foi possível documenta-los. A isso é preciso acrescentar, por outro lado, a coincidência da maioria dos estudos em destacar o escasso efeito transformador das práticas educacionais que a incorporação das TIC provocou até agora. Estes fatos reforçam, segundo nosso entendimento, a hipótese que vincula o potencial transformador das TIC com seu uso enquanto instrumentos mediadores das relações entre os três elementos do triângulo interativo e, mais concretamente, como instrumentos mediadores da atividade conjunta que professores e alunos desenvolvem em torno dos conteúdos e tarefas de aprendizagem. (p. 86 e 87).



O último tópico do capítulo enfoca “A incorporação das TIC na educação: desafios”. Os autores vão nesta último tópico os autores vão defender a incorporação das “TIC na educação escolar coma  finalidade de tornar mais eficientes e produtivos os processos de ensino e aprendizagem, aproveitando os recursos e possibilidades que tais tecnologias oferecem” (p. 87); que “as TIC em geral, e a internet em particular, ainda são pouco utilizadas – pouquíssimo, na maioria das salas de aula – e que, quando utilizadas, tanto pelos professores quanto pelos alunos, com frequência é para fazer o que já se fazia antes sem elas” (p. 87).

Acreditam que a solução deste problema pode se dar “conforme forem cobertas as carências de equipamentos e infraestrutura – que, conforme já assinalamos, continuam sendo muito significantes em muitos países – e aumentem os recursos de formação e apoio, tanto o professorado quanto os alunos passarão a incorporar progressivamente as TIC nas atividades de ensino e aprendizagem na sala de aula” (p. 88).

Vão defender que “o que se persegue com a sua incorporação na educação escolar é aproveitar o potencial dessas tecnologias para promover novas formas de aprender e ensinar. Não se trata, assim, de utilizar as TIC para fazer a mesma coisa, porém melhor, com maior rapidez e comodidade ou mesmo com mais eficácia, mas para fazer coisas diferentes, para pôr em marcha processos de aprendizagem e de ensino que não seriam possíveis se as TIC fossem ausentes” (p. 88). [...] “Enquanto não se proceder a essa revisão profunda do currículo escolar, vamos talvez continuar avançando na incorporação das TIC na educação, no sentido de melhorar o conhecimento e domínio que os alunos possuem dessas tecnologias, e até a utilização eficaz destas  por parte do professorado e dos alunos para desenvolver sua atividade como docentes e aprendizes respectivamente; muito mais difícil, contudo, será avançar no aproveitamento efetivo das novas possibilidades de ensino e aprendizagem que nos oferecem, potencialmente, as TIC”. (p. 89)

Ao final do capítulo, os autores apresentam as referências, um glossário contendoa definição do seguintes conceitos: ferramentas da mente (mindtools); instrumentos psicológicos; e projeto técnico-pedagógico ou técnico-instrumental.

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